Adolescente do sistema socioeducativo ganha medalha no Campeonato Amazonense de Jiu-Jitsu

Jovem de 17 anos foi campeão na categoria “nogi” (sem kimono) e é uma das promessas do esporte

Jovem disputou o campeonato no último final de semana (Foto: Raine Luiz)

A dedicação e o sonho de mudar o próprio destino por meio do esporte levou o adolescente David*, de 17 anos, a ganhar uma medalha no Campeonato Amazonense de Jiu-Jitsu. O garoto cumpre medida socioeducativa no Centro Socioeducativo de Semiliberdade Masculino, coordenado pela Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), e levou o prêmio de melhor atleta na categoria “nogi”, disputa que acontece sem o uso de kimono.

O campeonato aconteceu no último final de semana, no Clube do Trabalhador, zona leste de Manaus, e reuniu dezenas de atletas, entre eles David*. O adolescente conseguiu o título com apenas quatro meses de treinamento no Instituto Alfa, academia situada  no bairro Alvorada, zona centro-oeste, e se tornou uma das promessas do esporte na capital amazonense.

O secretário William Abreu, titular da Sejusc, explica que David* era um adolescente que registrava várias entradas na unidade e não chegava a cumprir a medida socioeducativa em sua totalidade. Desta última vez, David* procurou a gestora do Centro Socioeducativo, Junilce Oliveira, pedindo que pudesse praticar jiu-jitsu, esporte que ele conhecia, mas nunca chegou a exercitar.

Junilce conta que, poucos meses após iniciar a preparação, o comportamento do socioeducando mudou radicalmente. “Lembrei de um socioeducador que tinha a academia e ele abriu as portas pra gente. Ele começou a fazer os treinamentos e evoluiu muito, conheceu outros amigos, passou a ter outra vivência e pensamento. Isso pra ele foi muito gratificante e pra gente também”, explica ela.

Mudança – David* conta que o contato com o esporte se deu quando ele tinha apenas 14 anos, enquanto ainda morava com um tio, e um de seus primos treinava na academia da família. Em seguida, ele passou a morar com a avó, cortando totalmente o laço com o jiu-jitsu. Ele revela não ter sido fácil voltar aos treinos, os quais já resultaram em uma perda de 20 quilos.

“No começo foi difícil. Eu não queria treinar, mas o mestre pedia para eu não desistir. Eu achava que não era pra mim e depois, passei a acostumar. Agora, eu mesmo peço pra ir pra academia. Eu tomo meu café e passo o dia inteiro pra lá e depois, volto para dormir na unidade”, explicou o socioeducando.

Recebido de braços abertos no Instituto Alfa, David* diz que o espírito agora é de mudança. Ele pretende se preparar para o Pan-americano de Jiu-Jitsu Esportivo, que será disputado em Manaus, no mês de dezembro, e contará com toda a torcida formada pelo sistema socioeducativo.

“Ganhei esse campeonato não só por mim, mas por todo mundo que me ajudou. Antes da luta, eu queria ser esses caras que queria viver na escuridão da madrugada, fazendo coisa errada, tomando as coisas dos outros. Tudo nessa vida é uma questão de disciplina, respeito e humildade não só na academia, mas em todos os lugares”.

O mestre de jiu-jitsu e socioeducador do Centro Socioeducativo, Orlando Júnior, disse que David* é um jovem promissor e dedicado ao esporte. Para ele, foi uma enorme surpresa a medalha, porém, reforça que o comprometimento do adolescente dentro e fora do tatame fez toda a diferença.

“O esporte disciplina, querendo ou não. Para estar dentro, você tem que ser disciplinado, tanto para ouvir quanto para aprender, obedecendo aquela pessoa mais experiente. Dentro do tatame, você vai tendo amigos dessa forma e isso vai fazendo com que a criança e o próprio adulto tenham outra perspectiva de vida”.

*Nome fictício para garantir a identidade do jovem em cumprimento ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).